13 de janeiro de 2009




A Casa da Alfândega


O imóvel é constituído por dois corpos intercomunicantes, através de um portal. O corpo de entrada, que sugere um quadrado, mede, aproximadamente, 7x7.40 metros. O segundo corpo, de forma rectangular, mede 7 metros de largura por 20,5 metros de profundidade. Não dispomos de informação que nos permita avançar com datação exacta relativamente ao primeiro corpo do edifício. Embora o portal de entrada apresente molduras chanfradas com sinais de alguma erosão, o facto da contra padieira não ser abobadada indicia podermos estar perante um exercício mimético de um original quinhentista.

O portal de ligação entre os dois corpos não oferece dúvidas no que concerne à data da construção. As suas características construtivas são perfeitamente datáveis da época documentada no Alvará da Alfândega (1487). O desenvolvimento circular chanfrado das ombreiras e a padieira horizontal abobadada, permite-nos concluir com segurança estarmos perante um elemento arquitectónico quinhentista.

O segundo corpo, de configuração rectangular, cujo acesso se processa através do portal convencionado como quinhentista, compreende no seu interior o salão da Alfândega, que teria sido equipado e remodelado de acordo com as características formais do século XVIII, dentro do perímetro da construção quinhentista pré-existente. São visíveis nas paredes deste corpo sinais da existência de uma parede que seccionaria o salão actual, dividindo-o em 2 compartimentos cujas áreas apresentariam, aproximadamente, 1 e 2 terços da área do salão então indiviso, correspondendo o espaço maior ao primeiro salão da Alfândega e o menor, ao espaço de armazenagem de mercadorias. Mais tarde, possivelmente no século XIX, ao ser retirada a parede divisória foi restituída ao salão actual a sua amplitude original.
Não conhecemos as causas ou razões para esta operação. Há quem sustente que este espaço correspondente ao prolongamento das galerias, seria utilizado para a instalação da mesa da Alfândega. Com a eliminação desta parede e subsequente aumento da área do salão, teria sido então construído o corpo da frente, compreendendo um piso para instalação de serviços administrativos. Esta separação dos espaços interiores está claramente assinalada na fachada nascente, os limites do corpo rectangular estão perfeitamente demarcados por duas pilastras em cantaria de granito encimadas por pináculos decorados ao gosto do século XVIII.

A intervenção a efectuar no edifício deverá ter como prioritária a manutenção das áreas e dos espaços pré-existentes, bem como de todos os diferentes elementos arquitectónicos, respeitando integralmente a traça original do edifício.

Simultaneamente, o projecto de recuperação do edifício da Casa da Alfândega prevê ainda uma ampliação a norte, espaço onde serão instalados os serviços de recepção e administrativos, e se localizarão as salas destinadas a exposições temporárias.

O edifício não deve assumir estruturas exuberantes ou de tal natureza que se possam sobrepor à própria colecção que se pretende seja o elemento fundamental do espaço. Se assim não fosse, o olhar dos visitantes dirigir-se-ia para as estruturas arquitectónicas e o discurso expositivo perderia toda a sua função útil. Por outro lado, deve deixar-se livre a maior parte do espaço para que o edifício seja o mais adaptável possível ao programa museológico.

Sem comentários:

...não descanses.

" Recomeça... se puderes
sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
nesse caminho duro do Futuro,
dá-os em liberdade.
Enquanto não alcançares,
não descanses.
De nenhum fruto
queiras só metade. "

Miguel Torga